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Imaginem a minha felicidade ao receber um comentário do "Mário Alberto" (publicado na postagem anterior).
Ao abrir minha caixa de e-mail, me deparei dentre os mails que recebi, com um dele. Deixei todos os demais para ler seu comentário.
Atitude de fã que se sente honrado mesmo.
Conheci o Mário Alberto em 1994, no Salão Carioca de Humor, onde ele faturou uma menção honrosa em charge. Depois, mantivemos contato por cartas, telefone e revezávamos no pódio do Salão de Humor de Mangaratiba, onde por três anos consecutivos estivemos juntos, compartilhando as primeiras posições.
Lembro-me que, pelo fato de eu ter coberto as férias do fenomenal cartunista Gil no jornal O Dia, sempre ia lá trocar umas idéias com o Janey, Ary, Gil, Alvim e o saudoso Vilanova (não é o cartunista gaucho) . Me recordo que, numa dessas minhas tardes lá na editoria de artes, o Ary Moraes ( editor de artes, juntamente com editor-chefe Eucimar) chegaram na editoria de artes com uns trabalhos. Todos da editoria ficaram ali, enamorando os trabalhos.
Logo em seguida, lá estava uma caricatura genial do Ronaldo "Fenômeno" de camisa da seleção brasileira, com uma fralda cheia de dinheiro e um chupetão dependurado no pescoço.
Àquele trabalho, ao meu ver, foi o estopim para que o Mário Alberto detonasse.
...Em 1998, recebi uma ligação do Mário, dizendo que seu editor de artes ( Daniel Chaves, na época) precisava de uma ilustração. Mas o Daniel nem me conhecia e eu não o conhecia. Ou seja, o Mário havia falado do meu trabalho... só pode!O Daniel me falou sobre a pauta, que lembro-me até hoje, era "Sai diabinho, entra...". Que falava sobre uma possível mudança de mascote (Brasinha) do América. E perguntou-me se havia condições de levar a ilustração naquele dia de chuvas torrenciais.
Fiz a ilustração, coloquei dentro de um saco plástico e me mandei para a sede do Lance, ali na Praça Onze. Depois de uma hora dentro de um ônibus lotado, desci em frente ao metrô da Praça Onze "com água pela cintura" e segurando o saco plástico com todo o cuidado do mundo, para que não houvesse qualquer acidente.Cheguei à Travessa Santa Maria e pedi para falar com o editor de artes. Quando cheguei lá, ensopado até a alma, o Mário, se surpreendeu e chamou o Dani, que ao me ver, exclamou: _ Não acredito que você veio debaixo desse dilúvio! Eu com o braço suspenso ainda, para que nenhuma gotícula de água pudesse estragar a ilustração, entreguei e ele aprovou na hora. No dia seguinte, lá estava meu trabalho exposto.
Depois disso, tive a honra de trabalhar por um tempinho ali, ladeado pelo Mário Alberto e pelo Ique. Duas "universidades de ilustração".O Ique e o Mário, ambos ilustrando com ecoline e eu observando cada esboço, cada concepção. Sem falar no contato com o Marcelo Barreto (hoje na ESPN), com o Mário Guilherme, com o Quarentinha, com o José Roberto Wright (que sempre entregava as pautas em cima da hora) e tantos outros profissionais, que até hoje me dão orgulho pelo contato.O Daniel Chaves, um entusista, que enaltecia os trabalhos que fazíamos e nos dava ânimo a cada nova pauta.
O Mário Alberto, sem dúvida alguma, esta dentre as pessoas que me agregaram conhecimento e me possibilitaram crescimento.
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A vida seguiu, o Mário Alberto continuou nessa ascenção maravilhosa e só voltamos a nos encontrar em um Salão Carioca de Humor, onde, se eu tivesse que apostar em três trabalhos, o dele estaria entre eles. Lembro-me bem que, cheguei a comentar com o Ray da possibilidade desta caricatura do Mário ficar em primeiro ou segundo lugar. Mas não foi! E acredito que como eu, muitos companheiros de profissão acreditavam assim.
Ele simplesmente sintetizou a caricatura do Ronaldinho, transformando-o em um cavalo.
Contextualização, distorção e preservação da identidade , domínio técnico e apresentação estavam nàquele trabalho. Mas, para variar, na avaliação da comissão julgadora, o trabalho estava bom apenas para figurar na mostra.
Vários companheiros falaram sobre o fato...
Mas para o Mário Alberto, isso não fez tanta diferença. Graças a Deus!
Na edição do Salão Carioca de Humor em que ele participava com este trabalho excepcional, ao chegar para a exposição, a recepcionista constatou que o nome do Mário Alberto não constava na lista dos convidados. Eu, ao encontrá-lo ali do lado de fora, questionei o motivo e ele então me contou.Na mesma hora, meu perfil colérico me fez ir até a recepcionista, que, ladeada por dois seguranças (que me olhavam com cara de cães-de-guarda) tentava se justificar: _ É que não nos foi autorizada a entrada de quem não estivesse na lista. Eu então pedi para que ela chamasse a assessora de imprensa para que eu falasse com ela. Ao chegar, perguntei à assessora o seguinte: _ Que critério é esse, onde os cartunistas que fazem os trabalhos para que o salão aconteça, ficam do lado de fora e os figurões do "high society" ficam lá dentro tomando whisky e posando para as lentes dos jornais? Ela chegou pertinho de mim e perguntou: _ Mattias, quem está aí com você? (Acredito que algum anjo ou demônio tenha soprado meu nome em seus ouvidos) Eu respondi: _ Todas estas pessoas que estão aqui fora. E ela então, sob o olhar dos seguranças enfurecidos, disse bem baixinho: _ Podem entrar! E então chamei o Mário e as pessoas que se agrupavam ali na frente da Casa de Cultura Laura Alvim....
Noutro ano, lá estava mais um trabalho do Mário... esta belíssima caricatura do Tom Zé.
Novamente, para compor a mostra e o catálogo.
Promover reflexão não custa nada...
Podem reparar, quando há interesse em preservar algum nome, ou fazer média com determinado artista, na hora a comissão de organização arruma um jeito de atribuir dois prêmios na mesma categoria, para artistas distintos ou atribuir menções honrosas. Desde que hajam interesses.
Em contrapartida, se não houver amizade ou interesse, o concorrente pode fazer chover, que não fará a menor diferença.
Aqui no Salão carioca de Humor, bastava atribuir mais menções honrosas que aí poderiam continuar fazendo política com uns e promovendo a valorização de outros.
Sempre falei que temos gente competente demais para a manutenção dessa dinâmica que virou vício em alguns salões, de tentarem empurrar goela abaixo os mesmos de sempre.
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Além do Mário Alberto, muitos outros companheiros cartunistas, foram "barrados" dentro de sua própria casa, enquanto artistas de novela e teatro e amigos chiques dos organizadores, dentro de suas roupas de grife, morriam de rir.
É por essa e por outras, que o Salão Carioca de Humor, um referencial do humor gráfico nacional, hoje tenta renascer das cinzas.
Aqui, infelizmente, nunca tiveram muita preocupação em evidenciar a qualidade dos nossos cartunistas. Um ou outro...
Mas, como o Mário Alberto, existem outros excepcionais ilustradores aqui no Rio de Janeiro, que mesmo não tendo o reconhecimento de eventos como os Salões de Humor, são referenciais para muitos profissionais e amadores.
Os trabalhos do Mário Alberto podem ser vistos no jornal Lance, em seu site http://www.marioalberto.com.br/ e em seu blog http://marioalbertoblog.blogspot.com/
Havia pelo menos três anos que não nos falávamos, mas a admiração e o acompanhamento é constante e a gratidão é eterna.
Valeu Mário Alberto!
"Ô Rapáaaaaaaaaaaa"
3 comentários:
Mattias,
Eu aqui na qualidade de admirador e entrão como vc já sabe que sou estando neste salão e deparando com um trabalho lindo como este do Mário Alberto nunquinha que eu ia sair de lá sem conhecer o artista que concebeu tal obra e quando descobrisse que tinham separado PAI E FILHO, talvez tomaria uma atitude igual a sua. CADA VEZ TE ADMIRO MAIS. ABRÇS.
Ô Silvério! Precisamos ir juntos em alguns salões então... Risos
Você com essa altura toda vai ser bacana. risos
Abraço grande
Aproveitando que tô por aqui, deixo mais um muito obrigado pela sua generosidade em perder esse tempo todo comigo e com os meus trabalhos. Isso me lembra o tio Ben Parker. Não sou grande nem me sinto poderoso mas, de responsabilidade, eu entendo e é também pensando nessa "missão", inspirar outros a desenvolver o próprio traço, que eu sempre duo 1000% quando sento pra pintar. Resultados? Ah, 'xarrolá! Resultado, pra mim, é ficar feliz com o que eu consigo produzir e saber que o melhor trabalho é sempre o próximo.
Abração
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