MATTIAS X O GLOBO

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Mais um fato de bastidores, que, depois de algum tempo, posso compartilhar com vocês.

Aconteceu na década de 90...
O Jornal O Globo, promovia um evento denominado "Jovens Talentos", onde, dentre as diversas atividades voltadas ao público juvenil, havia um concurso de charges.
Como sempre gostei de fazer um clipping sobre os assuntos pertinentes ao desenho de humor, acompanhava o desenvolvimento desse concurso.
Assim que saiu o resultado, surpresa! O trabalho vencedor era uma charge do Cristo Redentor baleado caido sobre a sua base, de um camarada que já havia sido premiado nas duas edições anteriores do "Jovens Talentos". Na hora, me veio à cabeça a imagem de um trabalho que o cartunista paraense Biratan Porto havia feito anos antes para o Salão Carioca de Humor. Eu, imediatamente liguei para a redação do jornal, pedi para falar com o editor responsável e falei sobre o suposto plágio. Falei ainda da temeridade que seria sustentar àquela premiação, por se tratar de um evento que visava promover nos jovens concorrentes, o interesse pelo desenho de humor. E que seria complicado, formar uma nova geração de cartunistas que tivesse na falta de respeito com o trabalho de um companheiro, seu referencial.
A jornalista então perguntou se eu tinha o material que pudesse comprovar àquilo que havia dito. Eu respondi que sim e imediatamente ela disse que mandaria um motoboy do jornal ir ate a minha casa buscar o material. Em menos de 40 minutos, lá estava o motoboy e o material entregue a ele. Mais 40 minutos e recebi algumas ligações do setor jurídico da empresa e da editora.
Como o resultado já havia sido publicado, sugeri que a premiação fosse destituida, que notificassem o motivo e assim foi feito.
Infelizmente, no ano seguinte não houve mais o concurso.
Será que as coisas só podem funcionar quando estão erradas?

Eu até poderia nem questionar nada, já que o Biratan é apenas mais um companheiro de profissão, está distante 3.250km de mim e não é um amigo próximo. Mas penso que, mais importante do que o grau de afinidade entre os pares e os interesses no escambo que os mesmos podem promover entre si, deve haver o respeito por àquilo que os companheiros representam.

Hoje, após uma década, compartilho este fato sem o menor interesse na auto-promoção, mas para alertar que, não é necessário esperarmos por associações ou pessoas ligadas às instituições que se dizem responsáveis por esta ou àquela classe, para buscarmos soluções coletivas.

Até porque, infelizmente, hoje, quando há algum convite para participar de um encontro de cartunistas, geralmente é com intuitos políticos e não há interesse em promover debates ou buscar soluções para nossa classe (se é que ela existe), mas para definir se o chopp é "com" ou "sem colarinho".

Como diria o Cartunista Putão: _ Cartum de bêbado não tem dono.

Só para constar:
Tem muitos fatos interessantes, que, com o passar do tempo, vou compartilhando. Em doses homeopáticas, porque tem muito cartunista sensível.

Abraços!